"Enfim, mais duradoiros são os rancores dos deuses do que dos homens. Os homens são estes pobres diabos, capazes sim de terríveis vinganças, mas a quem uma coisita de nada comove, e, se a hora é a certa e a luz propícia, cai nos braços do inimigo, a chorar esta estranhíssíma condição de ser homem, de ser mulher, de ser gente." (José Saramago)

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Levantado do Chão.

Nesta primeira publicação oficial deste blog, falaremos sobre a luta de um povo descrita nas páginas de um romance impar da literatura portuguesa. Publicado em 1980 Levantado do Chão, é considerado pela crítica como um dos romances fundamentais de José Saramago, é fruto da convivência de alguns meses com os trabalhadores da União Cooperativa de Produção Boa Esperança, quando o escritor se mudou para o Lavre e Montemor-O-Novo. Viajando, ao longo da obra, como narrador, o autor acompanha a vida de dor e sofrimento de três gerações: Domingos Mau-Tempo, o seu filho João e os netos António e Gracinda, casada com António Espada. Eles representam o povo do Alentejo. Um povo que luta contra as forças opressoras (os latifundiários, as forças da ordem e a Igreja). É uma luta obstinada e de muitos sacrifícios, num ambiente de miséria rural. É uma fotografia do movimento anti-fascista no Alentejo.

Sobre esta obra escreveu Saramago:

"Um escritor é um homem como os outros: sonha. E o meu sonho foi o de poder dizer deste livro, quando terminasse: Isto é um livro sobre o Alentejo."

Acrescentando numa outra ocasião (publicado no jornal O Tempo em novembro de 1981):

"Acho que do chão se levanta tudo, até nós nos levantamos. E sendo o livro como é - um livro sobre o Alentejo - e querendo eu contar a situação de uma parte da nossa população, num tempo relativamente dilatado, o que vi foi todo o esforço dessa gente de cujas vidas eu ia tentar falar é no fundo o de alguém que pretende levantar-se. Quer dizer: toda a opressão econômica e social que tem caracterizado a vida do Alentejo, a relação entre o latifúndio e quem para ele trabalha, sempre foi - pelo menos do meu ponto de vista - uma relação de opressão. A opressão é, por definição, esmagadora, tende a baixar, a calcar. O movimento que reage a isto é o movimento de levantar: levantar o peso que nos esmaga, que nos domina. Portanto, o livro chama-se Levantado do Chão porque, no fundo, levantam-se os homens do chão, levantam-se as searas, é no chão que semeamos, é nos chão que nascem as árvores e até do chão se pode levantar um livro."



FOTOS: Diego Gurgel


Estréia dia 5 de setembro, às 20 horas

Usina de Artes João Donato.


em breve mais notícias.

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